CAPITULO 02
Boris crescia a olhos vistos, com madeixas loiras e um olhar hora frio e distante, hora envolventes e calorosos.Divertia-se vendo os comerciantes na praça e o movimento da cidade.
Seu pai, comerciante rico e próspero, pouco ficava no convívio com a família, deixando a Hava, o encargo de cuidar dos negócios na cidade; coisa rara para as mulheres da época; os cuidados com a educação de Boris e os afazeres de casa. Mesmo contando com alguns empregados, Hava gostava de ter tudo às rédeas curtas,especialmente da educação de Boris.Nas vezes que Razi,pai de Boris, estava em casa, ensinava ao filho as línguas que conhecia, querendo assim educar o filho para futuramente gerir os negócios da família.
Boris era aplicado e gostava de encontrar comerciantes de toda parte e mostrar seus dons com as palavras, falando quase sem sotaque, aramaico, grego, persa e latim.Aos doze anos, um garoto dessa idade e com esse conhecimento era mais que um prodígio, dando a Boris prestígio e admiração entre os comerciantes ricos, amigos de seu pai, entre as garotas e até alguns garotos.Apesar disso, ele não fazia alardes quanto aos seus amores e paqueras.Seu porte e sua cultura atraia muitos rapazes mais velhos entre eles um certo Judas de Queriote.Um rapaz mais velho que ele uns cinco anos e que gostava de política e com um olhar ambicioso.Pensava até que Judas queria sua amizade por causa de sua classe social.Forte, não muito alto, com cabelos encaracolados e pele morena,andava sempre bem vestido e não escondia seu gosto por coisas caras assim como não escondia o ódio por Roma.Sempre que conversavam, invariavelmente o assunto vertia para os ditames de Roma e do quanto o governo era subjugado por algum imperador romano.Hora ou outra comentava a boca pequena sobre os zelotes e o que tramavam contra os romanos.Pedia aulas de latim a Boris em troca de algumas moedas e favores.Boris não fazia questão das moedas, tanto que cobrava muito menos que alguns professores, mas os favores...ah..estes sim fazia questão de merecer.Gostava de sentir que dominava um homem forte como Judas, fora os carinhosos beijos que nem as mulheres do baixo mercado davam.
Hava sabia dos gostos do filho por aquele pardo mas fechava os olhos e preferia nestas horas cuidar dos negócios.Queria ter dinheiro o bastante pra mandar Boris a Hébron, perto do pai e longe dessas amizades que levavam seu filho a perdição.Hava orava dia e noite para que o filho abrisse os olhos ás leis e seu povo.Muitas vezes brigava com Boris para que ele pelo menos usasse o quipá.Mas ele sabia como dobrar aquela “idishe mame”,pegava ela pelo colo e rodava até ela gritar que estava tonta e que ele iria machucar a coluna,largava Hava sentada rindo e se recompondo, vendo o filho sair rindo e cantando músicas de sua infância, músicas essas ensinadas por ela.Mesmo esses carinhos não eram o bastante pra que ela suportasse aquele pardo em sua casa.
Numa tarde,Judas bateu a porta da casa,porém Boris não estava.Hava aproveitou para chamar Judas para uma conversa.Levou-o para o jardim interno do pátio, acenando para uma das cadeiras como que ordenando para que ele se sentasse nela.Judas pressentia que a conversa não seria agradável e até fez menção de ir embora, sendo interrompido bruscamente.
-O senhor é de onde mesmo?-perguntou Hava.
-Minha família é do sul de Hébron,sou filho de Simão de Queriotes, senhora!
Logo Hava viu que seus planos de mandar seu filho a Hebron náo era boa idéia.
-Vou ser muito sincera,não gosto desta amizade com meu filho ,muito menos dos rumos que ela está tomando.Como sabe, somos uma família conhecida aqui em Bethlehem e já ouço comentários de suas visitas a minha casa.
-Minha senhora, não veja mal na nossa amizade pois seu filho para mim é como um irmão mais novo, a quem protegeria com minha vida, além de que nossa amizade se resume as aulas de latim que ele ministra quase que por dó sendo que me cobra bem menos que qualquer outro professor desta cidade.
-Quanto o senhor desejaria para deixar minha família em paz?-perguntou com os olhos faiscando.
-Não seria o caso senhora...
-Eu insisto em lhe prouver algum dinheiro para que ache outro professor que não meu filho.
-Sendo assim, senhora,cinqüenta moedas seriam o bastante para pagar um bom professor fora da cidade.
-Está de brincadeira...no mínimo trinta moedas e não mais.
-E o que explicaria a Boris?
-Disso cuido eu!-disse Hava já esticando um saco com trinta moedas à Judas.
Acompanhou Judas até o portão e sentiu um misto de satisfação e ódio.Satisfeita por livrar seu filho daquela companhia nefasta e ódio por ter que abrir mão de seu tão suado dinheiro. Agora poderia até apresentar a filha do rabino a Boris!